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Trecho do Parque Estadual da Costa do Sol - Praia das Dunas |
Há mais de 30 anos, frequento
a chamada Região do Lagos, no Estado do Rio de Janeiro, especialmente as
cidades de Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo e Cabo
Frio.
Esta última foi eleita pela minha família como um refúgio de fim-de-semana e de férias para fugir do caos urbano do Rio de Janeiro e por esta razão tenho uma relação muito estreita com ela.
Há 30 anos, Cabo Frio era uma pequena cidade litorânea de veraneio, com uma orla repleta de praias com dunas e areias brancas e mar cristalino; em contrapartida, era carente de infraestrutura (faltas de energia elétrica e de água irregulares, ruas não pavimentadas e sem drenagem etc.).
De 1980 para 2016, Cabo Frio passou por muitas transformações que melhoram as suas condições como ambiente urbano, mas o preço que vem sendo pago com isso, em termos ambientais, tem sido inegavelmente alto.
Com a substituição das antigas casas por incontáveis condomínios de apartamentos, o número de turistas cresceu exponencialmente ao longo destes anos.
Ciente de que o crescimento do turismo e, por conseguinte, da especulação imobiliária na região geraria grande impacto nos ecossistemas próximos ao litoral, o governo estadual, por meio do Decreto Estadual n° 42.929/11, criou o Parque Estadual da Costa do Sol, abrangendo vários trechos das orla de Cabo Frio, dentre outros município, tendo como principais objetivos de sua criação: “assegurar a preservação dos remanescentes de Mata Atlântica e ecossistemas associados da região das baixadas litorâneas (restingas, mangues, lagoas, brejos, lagunas, entre outros), possibilitando a recuperação das áreas degradadas ali existentes; manter populações de animais e plantas nativas, servindo como refúgio para espécies migratórias raras, vulneráveis, endêmicas e ameaçadas de extinção da fauna e flora nativas; oferecer oportunidades de visitação, recreação, interpretação, educação e pesquisa científica; possibilitar o desenvolvimento do turismo no seu interior - uma vocação natural dessa região do Estado - além de atividades econômicas sustentáveis no seu entorno”. (Trecho extraído do sítio http://www.inea.rj.gov.br/Portal/Agendas/BIODIVERSIDADEEAREASPROTEGIDAS/UnidadesdeConservacao/INEA_008423 - grifos nossos).
Placa de alerta aos usuários no início de uma das trilhas de acesso ao parque. |
De fato, pelas fotos abaixo,
obtidas no parque num trecho de pouco mais de 600 metros de extensão (vide mapa a seguir), unicamente no município de Cabo Frio, é
possível verificar a abundância de sua fauna e flora.
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Trecho do parque no qual foram obtidas as fotos desta postagem. |
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Bico-de-lacre. |
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Coruja-Buraqueira. |
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Anu-Preto. |
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Anu-Branco. |
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Alguns exemplares da flora do parque. |
Apesar disso, as fotos abaixo
constituem a triste realidade do parque ao longo não só da orla de Cabo Frio, como também em trechos existentes em outros municípios: lixo
para todo o lado deixado por turistas que praticam uma modalidade de turismo que pode ser classificada como predatória e por atividades econômicas não sustentáveis dentro do parque
(barracas de bebidas e alimentos que não se preocupam em recolher o lixo gerado
por seus clientes), isto sem contar os inúmeros veículos automotores (utilitários,
bugres, quadriciclos e motos) que circulam livremente por cima da vegetação.
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Lixo em meio às dunas do parque. |
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Copo plástico jogado na vegetação, acumulando água da chuva, possibilitando a proliferação de mosquitos transmissores de doenças como dengue, chikungunha e zika virus. |
Some-se a isso a total omissão governamental, pois no parque não se vê nenhuma ação de conscientização ou de
fiscalização das atividades de turismo ou comercial praticadas dentro da área
do parque, nem mesmo de coleta do lixo ali abandonado.
Se não houver mudanças rápidas na forma de gestão (ou melhor, na falta dela) do parque e de uso deste pelos seus usuários, em breve só restará nele areia e a vaga lembrança da fauna e flora que um dia o habitaram.
Então, faça a sua parte; é
simples: Ao visitar este e qualquer outro parque, não deixe nada, a não ser pegadas; não mate nada, a não ser o tempo;
não tire nada, a não ser fotos.