Nas postagens não poderia faltar relato da caminhada para a Pedra do Sino (2.275m de altitude), que é parte do trajeto da Travessia Petrópolis-Teresópolis, umas das mais famosas travessias longas do Brasil.
Trata-se de uma caminhada classificada com nível de dificuldade entre moderado a pesado, classificação esta que eu atribuo não ao desnível de aproximadamente 1.175 metros entre a sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos em Teresópolis e o cume da Pedra do Sino, mas sim pela distância entre os dois pontos - 11 Km.
Para a visitação a este pico podem ser adotados dois procedimentos: o primeiro é a caminhada com pernoite, podendo ser utilizado o Abrigo 4 ou o camping ao lado deste abrigo, ou o segundo que é o "bate-e-volta", totalizando, nesse caso, 22Km de caminhada durante aproximadamente 8 horas.
Quando a idéia desta caminhada surgiu, era um projeto para ser cumprido com 5 amigos, com pernoite no Abrigo 4, que oferece uma excelente estrutura com banheiros, cozinha e 3 quartos (sendo dois mobiliados para seis pessoal em cada - inclusive com colchões - e um quarto para até 15 pessoas, no qual se deve utilizar saco de dormir).
A caminhada ficou agendada para 01/08/2010 e começamos a nos mobilizar com um mês e meio de antecedência, em especial para poder reservar o pernoite no Abrigo 4, que costuma ser sempre muito procurado, principalmente nos períodos de férias e feriados. A compra dos ingressos para o acesso à trilha apenas poderia ser feita com uma semana de antecedência, por conta de regra interna do PARNASO.
Muita programação, muita antecedência, uma epidemia de gripe suína próximo ao período da empreitada, e apenas eu permaci firme na intenção de fazer a caminhada.
Dia 01/08/2009, saí cedo de casa para poder iniciar a caminhada por volta das 08:00Hs. Confesso que o caminho da minha casa até Teresópolis não foi muito animado, pois todo o trajeto de carro até quase a chegada do PARNASO foi feito em meio a nevoeiro decorrente do final de uma frente fria que passava pelo Rio. Aí vale uma observação que eu acredito ser comum a todo excursionista: quando se faz uma caminhada acompanhado por amigos, ver alguma paisagem ao fim não é muito relevante, mas, normalmente, se você se dispõe a caminhar sozinho, a paisagem passa a ser o ponto mais importante da caminhada.
Porém, a sorte estava ao meu lado. Ao chegar próximo ao fim da Rio-Teresópolis, fui contemplado pelo sol em um dia de céu azul. O nevoeiro estava concentrado apenas nas partes baixas da estrada.
Como previsto, às 08:00Hs em ponto, após estacionar o carro em frente à "pousada" (o estacionamento na barragem estava proibido para pernoite), iniciei a minha caminhada.
Pensei encontrar a trilha lotada por conta do período de férias, mas parece que a frente fria que se despedia e o nevoeiro que encobria o Rio espantaram o pessoal. Apenas para não dizer que não encontrei ninguém ao longo do caminho, havia um grupo com 3 cadetes de alguma escola militar se preparando para subir a trilha e, no meio do caminho, passei por dois grupos de turistas estrangeiros caminhando em sentido oposto o meu (pela quantidade de carga, acredito que tenham feito a Travessia Petrô-Terê).
Apesar da minha mochila estar pesada com roupa para pernoite, alimentos, saco de dormir e isolante térmico, além de outros itens básicos para caminhada, consegui concluir o trajeto até o Abrigo 4 em 3:30hs. Logo que cheguei, deixei a mochila ali e segui para o cume da Pedra do Sino, totalizando mais 20 minutos de caminhada.
Como o frio que estava fazendo lá em cima, apesar de serem 11:50Hs e de estar usando um casaco, tratei de tirar rapidamente as fotos que eu pretendia e retornei para o Abrigo para fazer aquele Miojo clássico, que desceu muito bem depois da longa caminhada.
Novamente olhei o relógio: 13:15Hs... E eu só consegui pernoite no quarto coletivo para 15 pessoas em pleno surto de gripe suína... Como o sol iria se por volta das 17:30Hs, decidi não ficar e retornar no mesmo mesmo dia, transformando o pernoite em um "bate-e-volta", só que com a mochila carregada de coisas que eu não teria levado se tivesse decidido anteriormente que não ficaria lá em cima.
A volta foi tranquila, mas devo admitir que, ao longo do caminho, só pensava que quem inventou o ditado de que "para descer todo santo ajuda" jamais fez trilha. Ele deve ter chegado a essa conclusão descendo uma ladeira de carro ou admirindo uma maçã cair em queda livre de uma macieira.
Por conta da erosão em várias partes da trilha, a descida se tornou muito mais pesada do que a subida, em especial para os joelhos.
Mas, de qualquer forma, após 3:15hs horas de descida, cheguei novamente à "pousada" com a sensação da missão cumprida. Após esta caminhada, pude entender porque Von Martius (um naturalista que percorreu 10 mil quilômetros do Brasil no início do século XIX, catalogando a fauna e flora brasileira) afirmou que “Embora eu tenha visto em outras partes do Brasil muitas e variadas florestas primitivas, nenhuma me pareceu mais bela e mais amena do que aquelas que, perto da cidade do Rio de Janeiro e recobrindo as encostas dos montes que recebem o nome de Serra do Mar [Serra dos Órgãos], se estendem por boa parte desta província de São Sebastião. Estas florestas me agradaram muito mais que as outras e ficaram para sempre gravadas no meu espírito, não só porque fossem primitivas e, com isso, um presente para os meus olhos espantados, mas na verdade porque excedem em beleza e suavidade.”
Abaixo vão algumas dicas importante:
- Caminhe com calma, sem pressa, pois há sempre coisas interessantes para ver ao longo do caminho (principalmente a flora nativa. Animais são sempre mais difíceis, apesar de ouvi-los ao longo de todo o caminho);
- Além do material básico para caminhadas, jamais se esqueça de levar agasalhos e anorak (mesmo com previsão de tempo bom, pois a região é fria - especialmente no inverno - e pode haver mudanças repentinas no tempo);
- Concluí a caminhada de subida com 2,5 litros de água e reabasteci as garrafas no Abrigo 4 na descida. A quantidade de água foi exata, acabando um pouco antes da conclusão das etapas de subida e descida). Sendo assim, aconselho aos que costumam sentir mais sede que levem mais água, pois nem sempre os rios no percurso estão com volume de água suficiente, deixando a água com aparência ruim para o consumo;
- Mesmo que você vá fazer um "bate-e-volta", vale a pena levar um Miojo, ou qualquer outra coisa que lhe agrade, para preparar na cozinha do Abrigo 4. Apesar de cobrar uma pequena taxa pelo uso do gás (que é levado no ombro pelo funcionário do Parque, ao longo de 11Km), vale a pena, pois dá uma energia extra para a descida;
- É aconselhável fazer a reserva do Abrigo com uma boa antecedência, em razão da procura por este tipo de acomodação. Já a entrada do Parque e a da trilha podem ser compradas com uma semana de antecedência (é aconselhável que já no dia da compra dos ingressos seja entregue o termo de responsabilidade exigido pelo parque), valendo observar que geralmente o ingresso da trilha já está esgotado quando se tenta comprá-lo no dia da caminhada.
- Até pouco tempo atrás, os quartos mobiliados do Abrigo, apesar de disporem até de colchões, não possuíam roupas de cama, que deveriam ser levadas pelo usuário. Aconselho levar logo um saco de dormir para usar sobre o colchão, já que é mais fácil e mais leve para transportar do que lençóis e cobertores;
- Apesar de a trilha ser bem definida (vide fotos postadas no picasa - site acima), se você não está acostumado a fazer caminhadas deste tipo, aconselha-se a contratação de um guia profissional, que poderá não só orientá-lo a respeito do caminho, mas também passar informações interessantes sobre o relevo, flora e fauna locais (vide indicações do site do PARNASO ou da Associação de Guais Profissionais do Rio de Janeiro - http://www.aguiperj.org.br/homologcondutores.htm); Abs a todos e até a próxima!